Neste domingo, 30 de junho, celebramos o Dia Internacional do Asteroide, uma data de conscientização sobre os riscos de um impacto catastrófico de um asteroide e sobre o que podemos fazer para evitar que isso ocorra ou ao menos minimizar os danos. É também um momento para se debater sobre a importância de estudarmos essas rochas espaciais, não só para proteger o nosso planeta, mas também para aprendermos mais sobre o Universo que nos cerca, as origens do Sistema Solar. E se há uma missão espacial onde podemos aprender um pouco sobre tudo isso, essa missão é a OSIRIS-REx que visitou Bennu, um asteroide de 500 metros e que pode nos ajudar a desvendar os segredos da criação, ou da destruição.
A OSIRIS-REx, foi uma missão ambiciosa da NASA, que viajou milhões de quilômetros para coletar amostras de um dos asteroides mais perigosos para o nosso planeta, trazendo de volta à Terra um verdadeiro tesouro científico. As informações coletadas pela sonda prometem revolucionar nossa compreensão sobre a formação do Sistema Solar e talvez até mesmo sobre a origem da vida.
Descoberto em setembro de 1999, Bennu foi extensivamente estudado durante sua aproximação naquele ano. Já as primeiras análises mostraram que ele é um asteroide primitivo, rico em carbono, um dos elementos básicos para a vida como conhecemos. Os cientistas acreditam que Bennu seja remanescente da época em que o Sistema Solar estava se formando, e que ele preserva, praticamente intactas, moléculas orgânicas complexas, como aminoácidos, que são os blocos de construção das proteínas e, portanto, da criação da vida!
[ Bennu registrado pela Sonda OSIRIS-REx – Créditos: NASA/Goddard/University of Arizona ]
Mas Bennu não é apenas um objeto de estudo fascinante, ele também representa um futuro risco potencial para a Terra. Atualmente, o asteroide passa a cerca de 480 mil quilômetros de distância da órbita terrestre. Uma distância relativamente segura, mas isso não será assim para sempre.
Ocorre que a órbita de Bennu varia cerca de 284 metros a cada ano por causa de um fenômeno chamado Efeito de Yarkovski. Parece pouco, mas acumulado ao longo dos anos e somado às perturbações gravitacionais, isso pode colocar Bennu em rota de colisão com nosso planeta. Estudos mostram que a partir do final do próximo século, o asteroide deve iniciar uma série de 157 aproximações da Terra com possibilidades reais de impacto. Chances muito pequenas, é verdade, mas o suficiente para Bennu, com seus 500 metros de diâmetro, ser considerado um dos asteroides mais perigosos para o nosso planeta. Se atingisse a Terra, teria energia equivalente a 100 mil bombas atômicas. Mais um excelente motivo para conhecermos ainda mais esse ameaçador viajante cósmico.
E é aí que nossa protagonista, a Sonda OSIRIS-REx, entra nesta história! Lançada em setembro de 2016, a sonda da NASA viajou por dois anos até encontrar Bennu em dezembro de 2018. Ao se aproximar, a nave não perdeu tempo e, utilizando seus instrumentos científicos de última geração, começou a mapear a superfície do asteroide em detalhes, buscando o local ideal para a coleta de amostras.
[ Concepção artística da sonda OSIRIS-REx tocando o asteroide Bennu – Créditos: NASA/Goddard Space Flight Center ]
Mas eis que Bennu havia reservado uma surpresinha para este primeiro encontro. Os cientistas já suspeitavam que ele era um asteroide tipo “pilha de escombros”, ou seja, formado pelo reagrupamento gravitacional dos detritos de um asteroide destruído por um impacto. Só que as imagens da OSIRIS-REx revelaram que a superfície de Bennu era muito mais acidentada do que se esperava, repleta de rochas e pedregulhos, o que dificultou a busca por um local seguro para o pouso.
Após meses de análises e cálculos complexos, a equipe da missão finalmente escolheu o local ideal para a coleta de amostras: uma cratera relativamente plana chamada Nightingale, que, além de oferecer um pouso menos arriscado, parecia conter material rico em carbono.
[ Detalhe da superfície do astreroide Bennu: uma verdadeira pilha de escombros – Créditos: NASA Goddard Space Flight Center / University of Arizona ]
Em outubro de 2020, a OSIRIS-REx executou uma manobra espetacular de descida controlada, aproximando-se da superfície de Bennu com a leveza de uma ave. Utilizando um braço robótico equipado com um sistema de coleta especial, a sonda “beijou” o asteroide, liberando um jato de nitrogênio que levantou poeira e pequenos fragmentos da superfície. Esse material foi capturado pela sonda, garantindo um valioso presente cósmico para os cientistas aqui na Terra.
Com a preciosa carga a bordo, a OSIRIS-REx se despediu de Bennu em maio de 2021 e iniciou uma jornada de dois anos de volta para casa. Em setembro de 2023, a cápsula contendo as amostras se separou da nave e fez uma entrada triunfal na atmosfera terrestre, pousando em segurança no deserto de Utah, nos Estados Unidos.
[ Verificações preliminares na cápsula de retorno com as amostras do asteroide Bennu coletadas na missão OSIRIS-REx, logo após a cápsula pousar no Deserto de Utah em 24 de setembro de 2023 – Créditos NASA/Keegan Barber ]
A Abertura da cápsula foi um momento de grande expectativa para a comunidade científica. E a espera valeu a pena! As análises preliminares das amostras revelaram a presença de água, minerais raros e moléculas orgânicas complexas, incluindo aminoácidos, compostos essenciais para a vida!
A descoberta reforça a teoria de que, em um passado distante, asteroides como Bennu podem ter trazido para a Terra, além da água, os ingredientes básicos para o surgimento da vida. Curiosamente, o asteroide que hoje representa uma ameaça mortal, pode ser a chave para explicar as origens da vida em nosso planeta.
Durante pouco mais de dois anos em órbita de Bennu, a Missão OSIRIS-REx captou imagens da superfície do asteroide com detalhes sem precedentes. Além da coleta de amostras, ela também mapeou suas as propriedades físicas e químicas e registrou momentos espetaculares em que Bennu perde material para o espaço em razão da sua alta rotação. Essas conquistas certamente nos ajudarão a conhecer um pouco mais sobre nossas origens e a proteger o nosso planeta. Tudo isso em consonância com os objetivos do Asteroid Day. Mas a OSIRIS-REx ainda tem outras curiosas relações com esse movimento global de conscientização sobre os asteroides.
É que Brian May, guitarrista do Queen e um dos fundadores do Asteroid Day, também é astrofísico e fez parte da equipe da missão OSIRIS-REx. Outra curiosidade é que, durante a aproximação com a Terra, após nos enviar a cápsula com as amostras de Bennu, a sonda desviou da Terra e ajustou sua trajetória para encontrar, em 2029, o asteroide Apophis, um dos mais temidos pela humanidade.
[ O astrônomo real Lord Martin Rees ao lado dos fundadores do Asteroid Day, o diretor de cinema Grigorij Richters e o Dr. Brian May, astrofísico e guitarrista do Queen, durante evento de lançamento do Asteroid Day no Museu da Ciência de Londres – Créditos: Max Alexander ]
Com tudo isso, a missão OSIRIS-REx nos lembra que a ciência e a exploração são essenciais para desvendar os mistérios do cosmos e garantir o futuro da humanidade. Quem diria que uma pilha de entulhos espaciais como o Bennu, poderia trazer consigo, ao mesmo tempo, os valiosos segredos da criação e os terríveis presságios da destruição?
O post Asteroid Day: Missão OSIRIS-Rex e os Segredos da Criação ou da Destruição apareceu primeiro em Olhar Digital.